sexta-feira, 5 de abril de 2024

ATÉ O FIM - ATOS 28

 O encerramento do livro de Atos é algo intrigante. Primeiramente, pela ausência de uma conclusão. Não termina falando sobre o destino de Paulo, a perseguição dos cristãos ou a situação das igrejas plantadas. Há apenas uma pausa, dando a ideia de que a história não terminou. 

De fato, Deus continua a agir, encorajar, acompanhar e enviar o seu povo pra a pregação do evangelho em todo o mundo. Nesta perspectiva, a falta de uma conclusão  formal no livro de Atos nos lembra que a história da igreja, movida pela graça e poder de Deus, continua. 

Em segundo lugar, pelo que é relatado no último verso. Lemos: “pregando o reino de Deus, e, com toda a intrepidez, sem impedimento algum, ensinava as coisas referentes ao Senhor Jesus Cristo” (At 28:31). 

Paulo se encontrava em prisão domiciliar, vigiado por um soldado e aguardando o seu julgamento. Estava em uma cidade estranha e esperava o desfecho de seu apelo a César, portanto no aguardo de uma ação imperial. 

Mesmo assim, com tantas amarras e limitações, o texto nos diz que ele pregava o evangelho “sem impedimento algum”. As amarras humanas não eram suficientes para barrar a pregação do evangelho, que é o poder de Deus. 

Por fim, vemos que a mensagem pregada era “as coisas referentes ao Senhor Jesus”. Que seja esta também a nossa vida até o último dia. Sigamos crendo, vivendo e falando das coisas referentes a Jesus. 

Que seja Ele o motivo de nossa vida e razão de nossa alegria. Que seja Ele o nosso tesouro mais precioso e nossa mensagem mais importante. Sigamos a Ele, com tudo o que somos e temos, até o fim.


Escrito por Rev. RONALDO LIDÓRIO

Fonte: O Informativo JMP é uma publicação mensal da Junta Missionária de Pinheiros


segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Não Matarás

"Não matarás."

Êxodo 20.13

A Bíblia começa com o Deus vivo criando coisas vivas. Todas as coisas são dele, por ele e para ele (Romanos 11.36). Tudo na vida deve sua existêncida a ele. Ele anima todas as coisas. Em resumo, ele é o Deus da vida, um Deus que é vivo e que gera coisas vivas. Mesmo quando o diabo tentou frustrar o seu espetáculo vivo, introduzindo a morte – espiritual e física –, Deus a sobrepujou por meio de Jesus. Nele estava a vida (João 1.4) e essa vida era como o alvorecer de um novo dia trazendo luz para todos os homens e dissipando as trevas do maligno (1 João 2.8). Em Jesus e por sua poderosa ressurreição à vida, Deus está soprando nova vida num mundo tenebroso e caído (2 Coríntios 5.17).


Tudo isso está por trás das duas palavras e seis consoantes do texto hebraico de Êxodo 20.13. Ele foi redigido de forma tão simples quanto em nossa Bíblia em português e com notável brevidade: “Não matarás”. Das três palavras hebraicas usadas na Escritura Sagrada para descrever a perda da vida, a que está em Êxodo 20.13 é a mais raramente usada e é muito mais específica. Normalmente, embora nem sempre, é usada em referência ao que chamamos “homicídio”. Homicídio não é meramente o ato de tirar a vida de alguém, mas de tirar a vida de alguém injustamente. Isso, é claro, significa que nem todo ato de matar é proibido. Há casos como a legítima defesa, a guerra justa, a pena de morte e outros, nos quais tirar uma vida não é apenas permitido, mas exigido.


Tirar injustamente uma vida é fazer o trabalho do diabo. É introduzir a morte em um lugar ao qual ela não pertence. É agir contrariamente ao modo como Deus opera.


Falando da obra de Deus, esse mandamento também nos guia positivamente. Não apenas nós não devemos tirar a vida de alguém injustamente, mas também devemos labutar com Deus pela preservação, proteção e promoção da vida. O Breve Catecismo de Westminster, P&R 68, põe da seguinte forma: “Que exige o sexto mandamento? O sexto mandamento exige todos os esforços lícitos para conservar a nossa vida e a dos nossos semelhantes”. Do mesmo modo, João Calvino enfatiza esse ponto aos seus leitores na Instituição da religião cristã:


Se está em nossas mãos o auxílio para conservar a vida do próximo, somos obrigados a empregá-lo fielmente, a procurar o que for para a tranquilidade dele, a vigiar para debelar o que é prejudicial; se ele estiver em perigo, a estender a mão em auxílio.[1]


Porque Deus é o Deus da vida e porque somos os seus filhos e aqueles que andam do modo como ele anda (1 João 2.6), nós somos necessariamente aqueles que trabalham pela preservação, proteção e promoção da vida. Esse mandamento, então, está profundamente arraigado na natureza divina.


Ele está, contudo, arraigado também na natureza humana. A humanidade é por natureza feita à imagem de Deus. Os homens refletem a Deus de modos que animais e plantas não fazem. Portanto, eles merecem maior grau de respeito e até de reverência do que tudo o mais na criação. A vida de um ser humano não deve ser tirada de modo vão ou fútil.


Uma vez que os homens são criados à imagem de Deus, nós somos, em um sentido bastante amplo e geral, membros de uma única família pactuados uns com os outros. “o homem tanto é a imagem de Deus como é a nossa carne. […] a não ser que se queira despojar a humanidade, devemos favorecê-lo [o homem] como a própria carne” (Calvino).[2] Tirar injustamente a vida de um membro da nossa comunidade é, de certo modo, apagar uma pequena parte de nós mesmos; é como tirar a vida de um membro da nossa própria família.


De modo ainda mais profundo, Jesus apela a esse mandamento e nos ensina que ele diz respeito não apenas a restringir nossas mãos, mas também a restringir nossos corações.


Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e: Quem matar estará sujeito a julgamento. Eu, porém, vos digo que todo aquele que [sem motivo] se irar contra seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem proferir um insulto a seu irmão estará sujeito a julgamento do tribunal; e quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao inferno de fogo (Mateus 5.21-22).


É na mente e no coração que o homicídio é concebido. “Veja se é possível nos irarmos contra o irmão sem ardermos por um desejo prejudicial” (Calvino).[3] Seguir esse mandamento é viver na paz e na alegria da unidade e da reconciliação.


Nós não podemos sequer pensar em tirar a vida de alguém injustamente sem pensarmos em Cristo, cuja vida foi perdida nas mãos de homens ímpios e injustos. A exigência de preservar, proteger e promover a vida foi completamente esquecida enquanto eles crucificavam o nosso Salvador. Contudo, Deus estava operando ali, satisfazendo a sua ira contra o pecado e preservando sua justiça ao perdoar pecadores homicidas como nós, que injustamente tiramos a vida de outros com nossas palavras, em nossos corações e por nossas mãos. E é essa graça que nos motiva a sermos um povo da vida, trabalhando com toda a força que há em nós para preservar, proteger e promover a vida, para a glória de Deus.


Rev. Brian Tallman é pastor da New Life Presbyterian Church (PCA) em La Mesa, Califórnia, EUA.


[1] N.T.: João Calvino. A instituição da religião cristã. Tomo I. Trad. Carlos Eduardo de Oliveira. São Paulo: UNESP, 2008, p. 382 (II, VIII, 39).


[2] N.T.: João Calvino. A instituição da religião cristã. Tomo I. Trad. Carlos Eduardo de Oliveira. São Paulo: UNESP, 2008, p. 383 (II, VIII, 40).


[3] N.T.: João Calvino. A instituição da religião cristã. Tomo I. Trad. Carlos Eduardo de Oliveira. São Paulo: UNESP, 2008, p. 382 (II, VIII, 39).

sábado, 12 de agosto de 2023

ELE Não se Lembra Mais

..."Pois perdoarei as suas iniquidades e dos seus pecados jamais me lembrarei." 

Jeremias 31:34


     Quando conhecemos o Senhor, recebemos perdão dos pecados. Nós o conhecemos como o Deus da Graça,  aquele que perdoa nossas transgressões. Que descoberta alegre é essa!

     E quão divinamente essa promessa é formulada: o Senhor promete não se lembrar de nossos pecados! Deus pode esquecer? Ele diz que sim, e Ele quer dizer exatamente isso. Ele nos considerará como se nunca tivessemos pecado. A grande expiação removeu tão eficazmente todo pecado que, para a mente de Deus, não existe mais pecado algum. Agora, o crente está em Cristo Jesus, tão aceito quanto Adão em sua inocência; sim, mais ainda, pois ele usa a justiça divina, e a de Adão era apenas humana.

     O Grande Senhor não se lembrará mais de nossos pecados para puni-los, ou para nos amar menos por causa deles. Assim como uma dívida, quando quitada, deixa de ser uma dívida, o Senhor faz completa obliteração da iniquidade de seu povo.

     Quando estivermos de luto por nossas transgressões e falhas, e esse é nosso dever enquanto vivermos, regozijemo-nos ao mesmo tempo pelo fato de que eles nunca mais serão mencionados contra nós. Isso nos faz odiar o pecado. O perdão gratuito de Deus nos deixa ansiosos para nunca mais entristecê-lo pela desobediência.

O Talão de Cheques do Banco da Fé, devocionário de charles h. spurgeon, pág. 102, Ed. heziom, São Paulo-SP


domingo, 18 de junho de 2023

"O Outro Evangelho"

Pr. Ronaldo Lidório  (Meditação)

 Na carta aos Gálatas 1:6 lemos: “Admira-me que estejais passando tão depressa daquele que vos chamou na graça de Cristo para outro evangelho". 

Percebe-se que a tentativa de deformar o evangelho é antiga, e Paulo alertou as igrejas na Galácia a respeito. A expressão usada por Paulo para este "outro evangelho" (heteros euaggelion) não se refere ao anti-evangelho, mas a um evangelho deformado. O alerta de Paulo permanece vivo e necessário em nossos dias. 

Em dias atuais, o evangelho tem sido insistentemente remodelado  para se encaixar na expectativa da sociedade. Perante uma sociedade hedônica que valoriza o prazer, evita-se o evangelho bíblico que confronta e chama o pecado de pecado. Perante uma sociedade insaciável que busca sempre novidades, reveste-se o evangelho de interpretações humanistas de prosperidade. Perante uma sociedade narcisista que busca destaque individual, o evangelho é usado para exaltar homens e não Cristo. 

A Palavra esclarece que o autor do evangelho é Deus, e não homens; que a identidade do evangelho é Cristo, e não os líderes da igreja; e que a natureza do evangelho é de profunda e crescente transformação.  Transforma perseguidores em perseguidos; agnósticos em crentes; orgulhosos em servos; perdidos em salvos. 

Quanto à crença, o evangelho nos leva a depositar nossa fé e esperança na graça de Deus e não na capacidade dos homens. Quanto ao relacionamento, o evangelho nos ensina a amar a Deus acima de tudo e ao próximo (amigos ou inimigos) como a nós mesmos. Quanto à missão, o evangelho nos lança ao desejo (e ordem) de Cristo, de fazermos discípulos (dEle) em todas as nações.

O evangelho bíblico diz “bem aventurados” e também “raça de víboras”. Manifesta a graça e também a justiça de Deus. Mostra os atos de bondade e também de punição. Apresenta o céu e também o inferno. Somos pelo evangelho convidados a conhecer a Cristo (nas Escrituras), viver Cristo (dia a dia) e proclamar Cristo (perto e longe). Jesus Cristo é o evangelho de Deus!

Pr. Ronaldo Lidório

segunda-feira, 12 de junho de 2023

Somente a Fé

Vidas não são transformadas pela apologética humana ou capacidade persuasiva da igreja, mas pela sincera fé no Senhor Jesus. Não somos salvos pelo que fazemos, nem pelo que outros fazem por nós. Nem pelas boas obras, penitências, intercessões ou doações. Somos salvos pela fé em Jesus Cristo, pois “o justo viverá por fé” (Rm 1:17; Ef 2:8). 

 A fé em Cristo não é formulação humana e não pode ser produzida artificialmente. Nem por pregações inflamadas ou palavras elaboradas, pois ela vem de Deus e é gerada à medida que se ouve a Palavra de Deus. Mas, mesmo ao ouvi-la, se o Senhor não a fizer penetrar nos corações, não haverá fé. Dependemos de Deus (Rm 10:17; 1 Pe 1:9; Hb 4:2).

 Se a glória de Deus é o alvo da missão, a fé é o seu meio. É pela fé que as pessoas são redimidas e passam a fazer parte da igreja, o povo de Deus. É pela fé que os cristãos pregam, na esperança de que a Palavra gere convicção e que o Espírito transforme corações. É pela fé que o evangelho é espalhado por todas as terras e povos, na expectativa do nascimento de igrejas que glorifiquem o Eterno. Sem fé não há igreja. Sem fé não há missão (Rm 10:8; Rm 10:14; 2 Tm 4:1-2).

O apóstolo Paulo, escrevendo ao jovem Timóteo, já ao fim de sua vida, disse que combateu o bom combate, completou a carreira e guardou a fé (2 Tim 4:6). Somente uma coisa ele guardou: a fé. Ele não guardou uma lista de realizações, ou títulos recebidos. Ele não guardou lembranças de igrejas plantadas ou revitalizadas. Ele não guardou bens, posses ou direitos, mas a fé. 

Alimente a sua fé na Palavra, oração, adoração, comunhão e missão. Guarde a sua fé, pois ela é a parte mais atacada na sua vida. Peça a Deus que aumente a sua fé, para que creia mais e descanse mais. E partilhe a sua fé, para que outros, perto ou longe, também venham a crer no Nome acima de todo nome: Jesus.


Rev.Ronaldo Lidório

Devocional