Naamã, capitão do exército do rei da Síria, era um
grande homem diante do seu senhor, e de muito respeito; porque por ele o SENHOR
dera livramento aos sírios; e era este homem herói valoroso, porém leproso.2 Reis 5:1
Todos sabem que a vida também é
feita de decepções, e precisamos aprender a lidar com essa realidade. A
história de Naamã nos dá lições a esse respeito. Vamos refletir sobre algumas decepções
que a vida nos impõe a partir dessa bela história. O contexto histórico é o conturbado
reino dividido de Israel. Divisão essa que se deu após a morte do rei Salomão,
e no início do reinado de seu filho Roboão (930 a.C.). Nesse período Israel vivia
uma espécie de exílio dentro do seu próprio território, imposto pelos sírios. Portanto
Naamã, como comandante do exército sírio e homem de confiança do rei, tinha
ascendência sobre os hebreus. Os profetas de Israel procuravam manter certo
distanciamento em relação aos governos de fora de Israel, embora fossem tidos
como conselheiros e representantes de Deus para seus governantes judeus e seu
povo.
1. Decepção consigo mesmo
O texto acima (2Reis 5.1), é uma introdução à narrativa de mais um
milagre atribuído ao profeta Eliseu, que viveu nos já citados conturbados anos
do reino dividido de Israel e domínio sírio sobre Israel. É uma descrição da
notoriedade de Naamã, como homem de confiança do rei da síria, estrategista,
herói de guerra, homem vitorioso. Mas, como vemos ao final da descrição, tinha
um “porém”, que representa a primeira decepção de Naamã, e irá desencadear
outras decepções em sua história. Aquele
“porém” que nos faz pensar, e perguntar: Quais são os nosso “poréns”?. Aquilo
que tentamos esconder a todo custo, inclusive de nós mesmos. Aquele, “porém”
que só a intimidade conhece. Podemos dizer que a volta pra casa de Naamã
representava o confrontar-se consigo mesmo. Alguém já disse que os “amigos” do
homem moderno (rádio, TV, mídias sociais, internet) nos livra do silêncio, pois
é nesse silêncio que para muitos aparecem os fantasmas da alma, os “poréns” ficam
gigantes. Vemos na narrativa da história
de Naamã que a inesperada exposição diante da escrava judia trouxe muitas
inquietações para esse notável comandante sírio e desencadeou uma série de
decepções. É importante observarmos também, que essa primeira e fundamental
decepção não era algo simples e insignificante. “Na Síria, a lepra apenas incapacitava a pessoa
de realizar suas obrigações; Naamã, estando leproso, já não poderia mais obter vitórias para a
Síria, o que causava sérias preocupações”. Por outro lado, para
o povo judeu não era apenas uma doença que tornava o seu possuidor um “inválido”,
mas era o símbolo do próprio pecado. Vale ressaltar que não é um mero “símbolo”
naquele sentido subjetivo que utilizamos¹, mas a própria marca do pecado, o que
é algo sensivelmente mais forte. O povo judeu e os povos antigos não faziam,
como nós, esse tipo de abstração. Quando falamos dos elementos da Ceia como “símbolos”
do Corpo e do sangue de Cristo, por exemplo, estamos dando aos elementos um
valor subjetivo e assim diminuindo o valor do Sacramento.
Portanto, essa primeira decepção
de Naamã se reveste de um significado muito forte e intensamente debilitante e
depreciativo. Era algo que tornaria Naamã um inválido, sem grande importância,
apagaria sua notoriedade. E do ponto de vista dos judeus, alguém distante de
Deus por carregar em seu corpo a marca do pecado.(Nm.5.1-4)
2. Decepção com seus recursos
Após ser interpelado pela jovem escrava israelita (2 Rs
5.3), Naamã crê em sua palavra e decide pôr um fim nessa debilidade, vergonha e
decepção consigo mesmo. Assim, Naamã relatou as palavras da escrava ao seu
senhor, que diante do desespero demonstrado por seu comandante decide enviá-lo
com uma carta ao Rei de Israel. Naamã então parte com alguns presentes, como se
fosse ou pudesse comprar a sua cura. Não poderia imaginar que seria exposto a
mais uma decepção. Desta feita a decepção seria com seus recursos materiais.
Quantos estão decepcionados com o que tem, e também com o
que não tem. O salmista Asáfe expressou o quanto essa decepção com os recursos
pode nos distanciar de Deus (Salmo 73). Jesus também ensinou no Evangelho o
quanto o apego e a dependência dos recursos materiais podem gerar um comodismo
mortal e uma avareza que as Escrituras definem como idolatria (Lc.12.13-21;
Cl.3.5)
Naamã precisou passar por mais essa decepção para aprender
que a “a vida de um homem não consiste na abundância de bens que ele possui”
(Lc 12.15) e aprendeu também que nada pode ser mais próspero e enriquecedor do
que obediência sem questionamentos (2Rs.5.12-14)
3. Decepção com a glória humana
Mas as decepções não pararam por aí. Interessante notar que
para que haja uma restauração completa o homem precisa ser limpo de todos os
conceitos deformados. Por isso Naamã, precisou passar por mais uma decepção. A
decepção com a glória humana. Notemos que o comandante sírio agora buscava
causar uma forte impressão no profeta, por meio de uma comitiva imponente
(v.9). Pensava que essa estratégia provocaria uma atitude igualmente
impressionante do profeta (v.11). Ao invés disso o profeta nem se deu ao trabalho
de sair e receber a comitiva de Naamã e fazer cena grandiosa de cura, mas
mandou um mensageiro dizer o que o comandante tinha que fazer para alcançar a
cura (v.10). Diante de mais essa decepção Naamã estava pronto. É assim que o
Senhor faz conosco, esgota todos os nossos recursos para que aprendamos a
confiar inteiramente nEle (v.15). O oposto de todas as atitudes deformadas de
Naamã agora são percebidas, mostrando um homem completamente curado.
- A dignidade foi devolvida (v.14) A cura maravilhosa foi alcançada
- Naamã agora pode reconhecer que “há Deus em Israel” (v.15)
- Naamã vislumbra a Glória do Senhor e reconhece que só a Ele devemos adorar (v.17)
Conclusão
Aprendemos
com essa belíssima história, que o cristianismo não é feito de “triunfalismo
barato”, e que uma vida pura e saudável é feita de derrotas e decepções
circunstanciais. Nesses momentos o nosso caráter é trabalhado e alcançamos
experiências que farão toda diferença em nossa vida. As decepções apesar de doloridas, têm função
de purificar nossas emoções e nossa mente de pensamentos deformados sobre nós
mesmos e sobre Deus.
Todos passamos por decepções na
vida, o que nos diferencia são as reações. Alguns tiram ricas lições dessas circunstâncias, se deixam ser
trabalhados, crescem e se aproximam de Deus
com essas experiências; outros se entregam a um vitimismo doentio e
alienante. Os primeiros elevam sua forma de encarar a vida e se tornam exemplo
a ser seguido. Os outros se tornam “amargos”, vazios e se distanciam de Deus.
Percebemos claramente essa
mudança radical na vida de Naamã. Passou de um mero pagão, que se julgava o
centro do universo, preso a valores materiais a um adorador humilde,
desprendido. Finalmente,
Naamã disse: “Se não, por favor, dê-se ao teu servo um pouco de solo, a carga
de um par de mulos; porque o teu servo não mais fará oferta queimada nem
sacrifício a quaisquer outros deuses, senão a Yahweh.” Naamã expressou
humildemente seu desejo de adorar o Deus de Eliseu, mas quis fazer isso em solo
israelita, embora tivesse de voltar ao serviço do rei da Síria.2 Reis5:17.
Quanta humildade mental Naamã veio a ter, não se preocupando com qualquer ostentação ou com destacar-se, mas, antes, estando interessado em agradar a Deus, aquele a quem reconhecia então como o verdadeiro Deus! (https://bibliotecabiblica.blogspot.com/2011/08/naama-aprende-ser-humilde.html)
Quanta humildade mental Naamã veio a ter, não se preocupando com qualquer ostentação ou com destacar-se, mas, antes, estando interessado em agradar a Deus, aquele a quem reconhecia então como o verdadeiro Deus! (https://bibliotecabiblica.blogspot.com/2011/08/naama-aprende-ser-humilde.html)
Que
o bom Deus use as decepções que sofremos nessa vida e nos faça crescer e se
aproximar dEle.
Ao
Deus que é “poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos,
conforme o seu poder que opera em nós seja a glória, na igreja e Cristo Jesus,
por todas as gerações, para todo o sempre. Amém” (Ef.3.20,21
Quando falamos dos elementos da Ceia como “símbolos” do Corpo e do sangue de Cristo, por exemplo, estamos dando aos elementos um valor subjetivo e assim diminuindo o valor do Sacramento.
ResponderExcluirPesquisando cheguei até o seu texto e fui extremamente edificado.
ResponderExcluirDeus siga lhe abençoando!