quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Jerusalém - Cidade Celeste


Jerusalém segundo o sentido histórico é a cidade terrena; no sentido alegórico é a Santa Igreja; no sentido espiritual, a pátria celeste; no sentido moral, a vida espiritual.

Nesse último sentido queremos meditar.

A Jerusalém Espiritual possui um muro que a circunda por completo. Esse muro a protege rigorosamente, de forma contínua e perfeita através de disciplina e de bons costumes. Em seu interior possui sete vias contrárias aos sete vícios presentes na outra cidade em nosso interior, Babilônia.

As duas cidades em nosso interior, "Jerusalém e Babilônia" estão em constante conflito (Gálatas 5.17ss).

- De um lado as virtudes (Jerusalém)

- Do outro os vícios (Babilônia)

Pensemos então, em cada uma das vias em nosso interior, na "Jerusalém Espiritual".

 1 - Humildade

Os dois lados dessa importante via (virtude) são:

         • Aquele mostrado somente diante de Deus. Aquela humildade fundamental, sem a qual, qualquer outra expressão é falsa e sem valor (1Pe.5.6; Is.57.15; Sl.138.6; 1Pe.5.5; Fp.2.5-8)

         • O outro lado da via decorre da primeira, e que portanto, é aquela humildade que tem valor, e não é falsa.

 2 - Caridade (amor)

A segunda também tem dois lados, que são:

           • Aquele destinado unicamente a Deus. Chamado de o maior mandamento. Ouve ('Shema' .:Hb.) - "Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR. Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força." Dt. 6.4,5

            • O segundo lado dessa via, semelhantemente, nos ordena a estender esse amor ao próximo, "como a nós mesmo" (Mt.22.37-40). O Senhor ensinou que seguir os dois lados dessa via nos coloca em consonância com toda a Lei e os Profetas. Isso nos mostra a grandeza do fruto dessa via. Como também nos ensinou o Apóstolo Paulo, "A plenitude da Lei é o Amor" Rm.13.10

 3 - Paz

No primeiro lado dessa via encontra-se a concórdia interior com o Criador. Portanto, esforçar-se interiormente para entender esse caminho é o que mais precisamos. Sl.34.14; Is.9.6; Is.26.3

E só consegue desfrutar a Paz com seu semelhante, quem antes de tudo tem Paz com o Altíssimo. Assim como só consegue perdoar, quem verdadeiramente reconhece o quanto é pecador e necessita de perdão do alto e sublime trono.

4 - Alegria

Alegria perene é aquela infundida pelo Espírito, que em seu primeiro lado, e como nas vias anteriores, é manifestada, apenas diante de Deus. É aquela exultação interior, que não é afetada pelas circunstâncias exteriores. Pelo contrário, é a Alegria perene e interior que transcende e se manifesta exteriormente. Sl.32.11; Fp.2.18; 3.1; 4.1,4

No entanto, devido a nossa pequenez e fraqueza, nos deixamos ser contristados por algumas circunstâncias externas. Nesse ponto, somos motivados por Deus para que essa tristeza não nos domine e transpareça em nosso semblante, principalmente em momentos de culto e celebração. Ne.8.9-12; Lc.15.25; Lc.5.34; 2Co.9.7

5 - Liberalidade

Em um lado dessa via está a aquisição de recursos de forma dedicada e justa. Pois a liberalidade depende do acúmulo de recursos. E é bom esclarecer que esse acúmulo visa, de antemão, o ter o quê repartir e ajudar pessoas necessitadas. Pois aquilo que é acumulado de forma desordenada em pouco tempo se transforma em idolatria. Isso se dá quando a confiança nas possessões temporais substitui a confiança no próprio Deus. Lc.12.16-21

Aquele que pratica a liberalidade jamais passará escassez e necessidade. Hb.13.5

6 - Abstinência (Jejum)

Duas virtudes são calçadas dessa via:

• Parcimônia (ato de poupar), que é contrária a glutonaria.

• Sobriedade, que é contrária a embriaguez.

Podemos somar à essa via a abstinência de pensamentos iníquos, e que portanto, a vigilância deve ser constante. Nessa via não podemos 'descansar' e se entregar a distrações. Ainda que, em princípio, pareçam ser 'puras'. Is.58

Nas Escrituras temos valiosos exemplos de quem praticava a Abstinência (Jejum): Moisés, Elias, Jesus, Daniel e seus amigos. Na história de Jonas, vemos uma grande lição de um povo ímpio, que praticou a Abstinência (Jejum) e alcançou a misericórdia divina. Jn.3

 7 - Continência (Pureza)

Assim como nas outras, há dois lados nessa via:

• Pureza do Coração (Pensamento)

• Pureza do Corpo (Ação)

Essa via, talvez não seja a mais importante em nossa "Jerusalém Interna", mas a via que faz oposição na "Babilônia Interna" certamente é a mais popular e chamativa - Libertinagem ou Lascívia. A escritora Dorothy Sayers (contemporânea de C.S.Lewis e J.R.R. Tolkien)  descreveu com precisão uma atitude comum: "Por uma ironia abominável, nossa reprovação faltosa daquele pecado (libertinagem) nos torna por demais púdicos, a ponto de sermos incapazes de ao menos nomeá-lo. Por isso temos usado de eufemismo, palavras mais brandas, para nos referir a ele. Palavras essas feitas para encobrir a completa extensão da corrupção humana. Um homem "pode ser" avarento e egoísta; vingativo, cruel, invejoso e injusto; violento e brutal; ganancioso, sem escrúpulos e mentiroso; teimoso e arrogante; estúpido, moroso e indiferente a qualquer instinto nobre - e mesmo assim, estamos dispostos a dizer que ele não é um homem imoral." ¹

 CONCLUSÃO

Somos constantemente instados a viver na nossa "Babilônia Interior", e desfrutar dos prazeres transitórios (ceder a tentação). Essa insistência nos é apresentada com nomes "suaves", e supostas necessidades imprescindíveis. Que o Senhor dirija a nossa vida e aprendamos com ELE a andar sempre buscando a FÉ verdadeira na "Jerusalém Celeste" em nosso interior. Pois, enquanto estivermos aqui, temos que conviver com um conflito intenso e constante no nosso interior, como nos ensinou o Apóstolo Paulo.

"Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos  entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer.              Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais sob a lei."

Gálatas 5.17,18

SOLI DEO GLÓRIA

Bibliografia

Guinness, Os. Sete Pecados Capitais. Sheed Publicações Ltda. 1ª edição, 2006 - São Paulo

São Vitor, Hugo de. Os Mais Belos Sermões. Editora Livre Ltda. 2019 - São Paulo.

(Esse estudo, deve ser entendido como o resumo de um sermão de Hugo de São Vitor)

Um comentário:

  1. Amém! Que o Espírito Santo nos ajude a manter Jerusalém dominante em nossas vidas.

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